domingo, 8 de fevereiro de 2009

Uma homenagem

Ele acorda mais um dia de manhã no clima ardorosamente frio e sobe em seu carro grande e cheirando a novo, fruto de um suor derramado com saudade e garra. Segue os mesmos quilômetros que o separam do hotel, preparado para mais um dia de limpar quartos, organizar armários, manter a propriedade limpa.
Os anos o separam de uma família que está longe, de uma irmã inquieta, talvez de um filho bem novo que viu muito pouco – e viu porque recusou-se a partir enquanto o niño ainda estava de colo. A promessa – e a realização – de uma vida melhor e com mais facilidades o fizera mover, como tantos outros. E desde então, sua força, sua incrível e admirável força faz mover uma potência que jamais seria a mesma coisa sem ele. O trabalho braçal e bruto, realizado com eficiência e muita fé.
Muitas vezes sem falar quase nada de inglês, muitas vezes confiando na sorte sem ter perspectivas fortes, apostam. Encontram grupos de comuns, e compartilham a falta de um país que é o seu de verdade, mas não lhe deu a vida que desejavam. Sacrificam amores por algo que se lhes insinua melhor. Sentem falta da comida de verdade, não aquela que diversos fast foods alardeiam na televisão, mas aquele que em verdade comiam nas suas casas, com suas famílias quentes, com verdadeiro nacho e boa pimenta. Mas o passar dos anos trás a dúvida: viver pra sempre o sonho americano, trazer quem se ama, construir vida aqui. Seus filhos já nascerão bilíngües, terão ainda mais oportunidades, estudarão em escolas que parecem melhores.
Honestos como poucos seres, dignos e fortes. Quase sempre cristãos convictos que jamais deixam de ir à missa nos fins de semana, a missa em espanhol que as igrejas tiveram o carinho de criar. Com freqüência agem com inquietante preconceito, mas talvez porque seja uma única defesa contra o preconceito alheio que há de vir sobre eles. Seriedade e alegria nas horas que julgam corretas. Rostos autenticamente reconhecidos como mexicanos. Vigor e boa vontade também.
Improvisando uma palavra em inglês, tentando explicar algo que não sabe em outro idioma, trabalhando horas a fio, sendo alvos de piadinhas e talvez olhares maldosos, conquistando seu espaço, sendo necessários. Sim, necessários. Que Deus dê a força que merecem os mexicanos que imigram pra cá e trazem consigo seus sonhos na mala.

2 comentários:

Mariana Mendes . disse...

Uau!
Você é phoda!

Nada a acrescentar.

luloures disse...

o sonho dessas pessoas, desses mexicanos, sempre me intrigou. São discriminados, mas fazem aqueles trabalhos que os americanos não querem fazer, que julgam ser menores...

Legal o que vc escreveu!
Fica com Deus
bjinhus