domingo, 28 de dezembro de 2008

Reencontro

*pequeno comentário antes da postagem

Bem, eu estava dando uma "folheada" no meu blog, e cheguei a uma conclusão: quem entra aqui pede pra morrer. Po, fora as notícias da viagem, aqui só tem coisa depressiva e esquisita! Bem, a fim de mudar a imagem sórdida e carregada de perfídia que sonda esse blog, mudo o tema. BrasiL!




Depois da exaustiva caminhada, eu ainda soprava as mãos e as colocava no rosto para esquentar-me. Minhas luvas baratas não estavam agüentando tanto frio.
O corpo reclamava de cansaço, mas enfim eu havia chegado àquele hotelzinho que mais parecia o cenário de um filme de drama americano. A neve fazia um carpete imaculadamente branco em volta da construção, e devo confessar que isso me constrangeu a pisar naquele solo aparentemente virgem. Observei calmamente antes de me dirigir para a casa da esquerda – a da direita parecia ser um depósito ou algo assim. “Toque a campainha e aguarde ser atendido”, dizia um anúncio na porta. Assim eu fiz.
Deixei minha mochila de lado e esperei em vão: ninguém parecia ter ouvido o som da campainha. Tentei de novo, prestando mais atenção, e percebi que mesmo eu não ouvia nada. Tirei as minhas luvas – que não me adiantavam de muita coisa – e encarei o frio para abrir o mapa e checar: Não havia dúvida de que eu estava no Wildflower Inn, a pousada rústica que eu buscava, construída toda em madeira e escondida em algum lugar do Wyoming.
Voltei alguns metros e olhei novamente a placa: “Wildflower”... Eu estava no lugar certo. Desta vez, me dirigi para a construção da direita e me surpreendi ao não encontrar nem mesmo uma campainha que fosse. Olhei pela porta de vidro e não vi alma viva, o espaço todo ocupado por objetos de utilidades que eu não conhecia. A porta estava trancada.
Retornei à outra casinha, desta vez disposto a entrar. Minhas pernas cansadas pediam um pouso, um lugar onde eu me aquietasse. Apertei mais uma vez o botão, sem resposta, e abri a porta mesmo assim. Essas casas dos Estados Unidos têm sempre duas portas, para que o ar gelado não tenha lugar nas mesas de jantar... Entre as duas, falei várias vezes, aumentando o tom de voz: “Com licença? Com licença...”. Nada. Empurrei a segunda porta, muito pesada por sinal, e entrei bem devagar repetindo o mesmo refrão de várias vezes.
O prosaico corredor dava para uma sala simples e linda. Quatro sofás se espalhavam em torno de uma lareira agradável, onde já havia um pouco da decoração de Natal que eu ansiava em ver. Detalhes de decoração não chamavam a atenção de forma especial, mas formavam um conjunto esplêndido de beleza caseira.
Não quis sentar, pois não me senti convidado. Desisti de chamar e de procurar gente, porque já estava consciente de não encontraria ninguém naquela casinha. Me deixei ficar e admirar, somente, respirando com calma e recuperando as sensações nas mãos diante do irmão fogo, companheiro. Minha caminhada não fora em vão; as horas que passei estrada afora não me serviram para encontrar o que eu esperava, mas me deram a chance de aprender a renovar-me. Ter forças novas.
E tudo aquilo, ambiente e paisagem, decoração e cheiro de madeira... e pensar que estava ali só pra eu me encontrar mais uma vez.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Novas!

22 de dezembro de 2008. Jackson Hole, Wyoming. The point Inn, quarto 215, sobre a mesa (on the table...)
“Eu sou brasileiro e não desisto nunca” – Vou arrumar um emprego.
Saudades de arroz com feijão;

Bons dias, meu povo querido. Eis que conto uma novidade: Hoje, arrumei um biquinho pra um dia, ganhando 25 dólares. Já dá pra pagar nossa ceia de natal (que vai ser no McDonald´s, a 4 dólares provavelmente). Bem, foi no mínimo divertido.
Nego ligou aqui pra casa e disse: “Você preencheu uma proposta de emprego. Estão precisando de gente na Jackson Buffalo Meat, agora”. “Esperaí”, disse eu. “Somos 5 aqui. Qual o nome da pessoa com quem você quer falar?”. “Não interessa. Precisamos de duas pessoas, agora. O telefone é tal.” Precisa dizer que eu nem quis saber de nada e fui pra lá com o Daniel?
Bem, era uma empresa eu vendia carne... perguntamos ao “patrão” o que fazer, e ele respondeu sombriamente: “vocês vão fazer o que mandarmos vocês fazer...”. Ok, primeiro carregamos coisa aqui, coisa ali, depois Daniel carregou milhares de caixas pra fora enquanto eu embrulhava gelo seco! Um tiozinho ia cortando e botando na mesa, e eu embrulhava. Aí vem a parte “legal”: Dava o tempo certinho de ele cortar e eu embrulhar, mas o papel acabou. O senhor tirou, gentilmente, mais folhas pra mim... da primeira vez. Daí pra frente, eu ia embalando e cortando, embalando e cortando, tira folha correndo pra não atrasar, embalando e cortando, até o momento em que ele grita “MORE ICE!” E eu tenho que sair correndo e buscar mais 40 quilos de gelo... uHAUhauHAUhauHAUhaU Foi ótimo!
Na pressa de chegar, eu, burramente, esqueci meu casaco e esqueci que eu não tinha almoçado =/ Mas abençoado seja o “patrão”, que comprou pizza pra todo mundo! (Hoje eu não almocei miojo!!!!!). Foi um trabalho rápido, de peão, só por 3 horinhas. Um bom começo =)
Na volta, passei um frio dos infernos (essa é uma frase contraditória? Pensemos que o inferno é incrivelmente quente... um frio dos infernos deve estar na casa dos 40°C, certo? Bem, não pensemos nisso. Entenderemos “dos inferno” simplesmente como locução adverbial de intensidade). Fiquei esperando no ponto sem casaco, e o busão atrasou 15 minutos!!!!!!!!!!
Nos últimos dias, tenho procurado emprego vorazmente. Nadinha (...). Nós e os peruanos somos cada vez mais uma só família (isso nem sempre é bom), e nesse momento estão todos no quarto nos chamando para beber. Os peruanos são mais animados que nós...
Ontem fui a uma missa em inglês, na igreja de Nossa senhora das Montanhas. Achei incrivelmente bonito, embora eu não tenha entendido tudo. Quase fiquei louco pra tentar acompanhar o credo, hehehehehehe. O mais engraçado, diferente, inusitado, é que o padre no final fez propaganda de uma lojinha ali perto que vendia presentes de natal (!). Isso não é muito comum no Brasil, é?
Bem, meu corpo dói maravilhosamente, porque é a dor de quem trabalhou. Estou rezando por um emprego, e minha esperança é enorme agora. Obrigado a todos pelas muitas forças.
P.S.: Hoje filei uma carne doce com arroz, péssima, do Pedro – ele não conseguiu comer.
P.S.2: Estou esperando desde sexta feira uma mulher bendita me ligar... Jesus, eu quero um emprego! Se ela estiver me enrolando, chorarei demasiadamente (mentirinha)
P.S.3: Vini passará 1 semana em outro hotel, pois está trabalhando em 2 lugares...
P.S.4: Os peruanos estão nos dando uma super força pra descolar um emprego! Ê, povo baum sô!
P.S.5: Hoje é quinta. A mulher referente ao P.S.2 estava realmente me enrolando....

AGREGANDO INFORMAÇÕES: NOSSO NATAL.
Pois é. No Natal não fizemos NADA. Íamos comprar frango pra comer as 9 e meia, mas o mercado estava fechado. Íamos pedir pizza, mas a pizzaria estava fechada. Íamos comer no McDonald´s... fechado.
Ontem também era dia de pagar a estadia. Como sempre, fizemos uma confusão com o dinheiro, mas por fim pagamos. Ibrahim, o atendente indiano que trabalha aqui, ficou com pena da gente e deu-nos um monte de biscoitos que os funcionários tinham ganho no Natal! Foi nossa ceia. Ele é muito legal. Acreditam que eu ofereci pra ele um miojo e ele não quis? UAHuhaHAUhauHAU
Mas hoje de manhã acordamos decididos a aproveitar o primeiro natal com neve de nossas vidas. Ok: saímos, jogamos bolas de neve uns nos outros, jogamos futebol na neve, derrubamos as pessoas no chão, demos montinho, e eu tomei um montinho violento em cima de um bolão de neve... fiquei com as mãos e o rosto queimando (literalmente. É tão frio que queima) mas valeu a pena! Foi infinitamente divertido. Todos nós ficamos com neve até a alma!!

Agora sim acabo. Mando um abraço a todos, e sinto saudades muito muito grandes...
Amo vocês!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

PROPAGANDA!!!!!!!!!!

BOM DIA, MEU POVO!

Hoje venho a vós anunciar que sou o mais novo muambeiro que conhecem. Sim! Se vocês desejam comprar ipods, notebooks, câmeras, playstations 3, xbox, nintendos wii, nike shox e qualquer outra coisa que no Brasil saia cara, você pode economizá-la comprando de MIM!!!!

Isso mesmo! No prazo de 20 dias você recebe, belamente, seu produto em mãos. É óbvio que se a coisa é cara, continua cara, mas sai mais barata que se comprada no Brasil!!

Aproveite essa oportunidade! Envie já um scrap para Waldyr Imbroisi e faça um orçamento grátis, sem compromisso! uHAUhauHAUhauHAUhauHAUhauHA

"A necessidade faz o sapo pular" - sábio chinês

Um abraço a todos! E se vocês tiverem algum amigo interessado em produtos eletrônicos/americanos, divulgue-me!!!!


UHU!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Minha noite

Eu estava sentado de pernas cruzadas sobre a cama ainda tentando entender o que me movera até então, e ouvi a esperada e temida batida na porta. Fui atendê-la, já sabendo o que me esperava do lado de fora, e uma mulher morena e esguia, vestida de forma simples mas provocante, entrou como se a casa lhe pertencesse e acomodou-se no meu leito.
Meus olhos ingênuos percorreram o quarto em busca de um lugar onde eu próprio me sentasse, mas ela chamou-me com uma voz lenta e arrastada. Sentei-me ao seu lado, olhando para o seu rosto e sem saber o que fazer.
- Então, o que vai ser? – Perguntou. Era hora de começar o “negócio”. Minha espinha gelou e travou a resposta que eu buscava na garganta impotente, enquanto eu rezava para que ela tomasse logo a iniciativa das coisas e eu só precisasse deixar acontecer. Meus olhos paralisados pediam ajuda.
Um sorriso – talvez maldoso – iluminou sua face, e ela ergueu seu corpo a fim de fazer-me deitar. Eu tremia.
Pensei ter ouvido um murmúrio bem baixo, dizendo: “relaxe, relaxe...”, mas acredito que foram palavras de mim para mim mesmo. Subitamente, a mulher cobriu-nos com meu edredom desarrumado e eu senti sua mão acariciando meu membro. Me remexi, assustado, sem saber exatamente o que queria que acontecesse, mas ela não retrocedeu, continuando as carícias até que eu me sentisse bem e acostumado ao seu jugo. Abriu-me então a calça e libertou meu pênis, baixando-a só o suficiente para que ele ficasse livre.
Senti a excitação percorrendo meu corpo – ou era medo? Não importava. Ela saiu debaixo das cobertas e despiu-se sensualmente diante de mim. Não sei se esperava que eu fizesse o mesmo ou que tomasse alguma atitude, mas permaneci parado, mirando seu espetáculo sem mexer nem um dedo.
Enfim, ela introduziu meu membro em si com força. Senti as batidas do coração se acelerarem na mesma hora, e ela começou a mover-se languidamente, repetidamente, mais rápido, mais devagar...
Não me beijou nenhuma vez. Não senti o gosto da noite que esperava encontrar em seus lábios, nem o cheiro de perfume barato. Senti um misto inexplicável de sensações sobrepostas, onde arrependimento e incompreensão eram sobrepujados vorazmente pelo prazer.
O orgasmo veio, mas não me atrevi a emitir qualquer som. Timidamente, fechei os olhos e apertei a boca cheio de vergonha, enquanto ela se desmanchava em gemidos e exclamações falsas... Tão falsas que eu mesmo enojei essa falsidade, embora ela tivesse me dado enorme gosto.
Acompanhei o corpo moreno levantar-se e pegar as roupas pelo quarto, começando a vestir-se de novo. Senti-me cansado e sem forças. Quando ela já havia terminado, fitou-me implacavelmente, exigindo o que lhe era de direito. Então me torci na cama para achar a carteira e entregar os honorários que a noite merecia.
Ela mesma foi-se embora, abrindo a porta a guisa de despedidas e deixando um homem semi-acabado em uma cama que parecia vazia demais. Aquela fora a primeira puta barata que paguei em minha vida. Sem querer, eu havia começado uma luta mortal entre minha Verdade e o meu Prazer... E eu sei, nos poucos minutos em que senti sobre mim um corpo estranho e sensual, eu sabia que o prazer era a única Verdade que eu tinha.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Eita!

Comentários acerca da madrugada – 13 de DEZ - 14 de DEZ

Ô, mundo apertado!


Erros mais frequentes de inglês:

Tag question
Marcar passado duas vezes (didn't knew...)
Pronomes!


Isso pode parecer estranho, esquisito, inusitado, e realmente é! Tudo começou quando o Pedro voltou do segundo e penúltimo dia de bico dele da loja de carpetes com uma barra, dessas de botar na porta pra fazer flexões, embaixo do braço. Antes já havíamos tentado comprar uma, mas burramente escolhemos uma que tem que parafusar... nada feito aqui no hotel. Essa era daquelas de pressão, que tem no meu quarto – pra quem conhece...
Pois bem. Pedro e Alexandre começaram a tentar colocá-la, mas estava escorregando do umbral da porta toda hora. Como a maioria dos homens, achei que três idiotas fossem ser mais eficientes que dois, e fui ajudar. Estava bem difícil, tentamos prender em várias partes e apertar ao máximo... Mas era em vão.
A essa altura, o Vini, ao invés de ajudar, filmava nosso esforço inútil com seu Wi-Phone. Em algum momento que não soubemos precisar, alguns habitantes do quarto da frente haviam saído e contemplavam curiosamente a nossa labuta... Muito tempo se passou, até que eles começaram a dar pitacos (como todo homem...). Um deles sugeriu colocar um jornal na porta (tecnologia peruana: eles eram de Peru), e quase deu certo... O Xand caiu de joelhos no chão tentando...
Foram mais de 15 minutos de tentativa em vão... ferramos a porta toda, e se descobrirem vamos ter que pagar. =| Isso é coisa de brasileiro... Mas a parte boa é que fizemos amizade com os peruanos. Conversamos um bocado, e o Pedro dedicou-se a, diligentemente, aprender todos os palavrões possíveis em espanhol. Os peruanos, por sua vez, mostraram-se grandes conhecedores da língua portuguesa, destilando todos os palavrões que costumamos usar normalmente.
Até hoje, Pedro ainda fica repetindo os novos vocábulos aprendidos...
Pois bem, colocamos o mercosul em prática e nos confraternizamos. Descemos com o violão, começamos a conversar, a zoar o Pedro (Pedro foi o Cristo da noite, tadinho... Tem gente que ainda não sabe se ele é gay ou não, por causa das nossas piadas...) e tocar umas músicas – Destaque para Corazón Partío, de Alejandro Sanz (Essa vocês já conhecem).
Logo, chamaram-nos e fomos para o quarto deles... 12 pessoas num cômodo do tamanho do nosso. Alguns foram comprar bebida, e os que gostam entregaram-se de corpo e alma a copos de vodka com um suco de 1 dólar comprado naquela lojinha barata... O violão rolava solto, o Dani tocava tudo que aparecia e as meninas amavam Shakira, Backstreet Boys e outras coisas parecidas. Por sorte fiquei conversando.
Daí, muitas coisas se seguiram, que não consigo me lembrar direito da ordem.
Eu estava tentando conversar em espanhol, e conseguindo ir bem. Foi engraçado ficar falando em espanhol com um, perguntar algo em inglês pra outro, e quando não sabia algo em espanhol, perguntar, do tipo: “Cómo se dice “snow” en español”? Quse fiquei maluco, mas foi legal. Falamos sobre línguas (dois deles fazem interpretação e tradução da universidade de Lima), sobre falta de emprego, sobre carnaval, etc. Todos ficaram decepcionados quando dissemos que nenhum de nós sabia sambar... “Brasilero que no samba? Ah, no creo!” Fazer o quê, né? Mas o Xand mostrou seus dotes de dançarino (Maiores detalhes? Perguntem a ele...)
Uma menina mostrou pra gente as fotos da viagem que ela fez pra Cuzco e Macchu Picchu (como se escreve o nome desse lugar?). Bem, agora eu tenho certeza de que vou lá um dia... O lugar é perfeito.
O tempo passava. Começou a bater aquele sono, o Vini foi pro quarto dormir... Daí, não tenho a menor idéia de como, mas surgiu, brotantemente, o assunto sobre socialismo/comunismo/capitalismo. Um dos meninos era socialista (não, ele não fazia história... Estudava economia), e resolveu expor as idéias dele. Foi MUITO legal, porque conversamos sobre mundo, crise, e por aí vai... O Dani foi-se embora.
Passamos um longo tempo falando disso, e nós chegamos até a falar do ZEITGEIST MOVEMENT (sugestão de filme pra quem está à toa: no youtube, procure zeitgeist addendum legendado. Está dividido em 12 partes, e vale a pena demais). Depois, sabe-se lá como (assim os assuntos fluem; sem sentido...) Chegamos em religião, em ateísmo, em historicidade de Bíblia, em espiritismo... O Xand foi embora.
Todos já estavam mortos de sono. Uma conquista: Um dos amigos peruanos me deu um cartão do diretor de Recursos Humanos do hotel em que ele trabalha... Parece que estão precisando de gente lá! Quem sabe? Esperança!
Fui chamar o Pedro pra ir, contudo, embora estivesse bêbado de sono, disse: “Ou, vamo ficá mais um poquin aí véi!”. Tudo bem. Daí, vejam que impressionante: Eu um post anterior, disse que perdi minha carteira... pois é. A Daphne, uma peruana com nome americano, disse que uma amiga dela achou, quarta feira de manhã (!), uma carteira marrom com documentos brasileiros... Será que é a minha???????? uahUAHuhaUHAUhauHAUAH Ê Mundo apertado!
Enquanto o Pedro quase dormia, fui jogar Playstation 2 (sim, eles têm!); Dragon Ball Z! Nunca havia jogado, mas ganhei de 11x1, UHAUhauHAUhauha.
Foi muito legal. Não imaginei que coisas assim fossem acontecer por aqui.
Agora, rumo ao emprego! Seja o que Deus quiser!
Um abraço a todos! Saudades mil!

Waldyr, Djudju binchôua.


P.S.: A essa altura, os peruanos não saem mais do nosso quarto... um deles está aprendendo português, e eu ensinei ele a falar "essa coca é fanta"! É muito engraçado, UHAuhaUHAUhauHUAHuahUHAUh

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Porque escrevo

Escrevo a esmo. Escrevo porque não tenho vontade de fazer mais nada... escrevo. Como se disso dependesse pra viver, pra me refugiar, pra deixar de lado o que me cerca e insiste em me confundir. Raras vezes eu fico sem graça.

Não sei saber se devo ou não me preocupar, e isso é meu inferno. É mentira. Sei que tenho que me preocupar. Mas não adianta.

Sinto falta de não ter tempo pra nada – sempre insatisfeito. Saudade dos tempos em que não conseguia fazer nada e fazia muito mais do que hoje. Saudade de ser sozinho (ser sozinho é também estar com todos, mas poder estar consigo. Sem estar comigo, não sou).

Organizo-me. Por isso escrevo. Não escrevo pra que leiam, pra que gostem, pra que tenham pena. Escrevo porque tenho pena de mim. Esse é meu único caminho, minha única rota, a forma que encontrei pra me ensinar a ser o que sou. Ainda não está funcionando.

Uma das maiores dores do homem é querer gritar ao lado de alguém que quer dormir. Quero gritar, urrar, subjugar tudo o que existe e ser maior – eu não quero ser maior... quero ser capaz de ser. Tudo que fica guardado uma hora explode e torna tudo muito maior do que deve. A revolta acende a memória.

O fato é que me enervo. Sinto cada nervo das costas se enrijecendo, vontade louca de viver a escatologia, de sempre purgar, de me livrar sempre do que não suporto ser e não suporto que sejam por mim... Sejam por mim?... Estou ficando louco.

PORRA! Quero gritar! Quero falar todos os palavrões que nunca falei porque nunca quis, nunca precisei, nunca gostei, ofender a mais tênue presença que se insinua, gritar, GRITAR, PORRA!

...

Juro, estou me segurando (devo?)... Quando quero chorar, não consigo. Mas eu sei: quando eu achar que melhorou, as lágrimas brotarão. E eu não saberei pará-las sozinho.





Escribo de forma aleatoria. Yo escribo porque no tengo ningún deseo de hacer nada más... escribir. Como si de eso dependiese para vivir, a me refugiar, a dejar de lado o que me cerca e estresa en me confundir. Raras veces estoy sin gracia.
No sé si preocupo me o no, y este es mi infierno. Es mentira. Sé que tengo que preocuparme. Pero no uso.
Extraño no tener tiempo para nada - siempre insatisfecho. Nostalgia de los tiempos en que no podía hacer nada y hacía mucho más que el día de hoy. Ganas de estar solo (estar solo también es estar con todos, pero poder estar con usted. Sin ser con yo, yo no soy).
Organizar mí. Por lo tanto, escribir. No escribo a ser leído, a que os guste, a que vosotros tengan pena. Yo escribo porque siento pena por mí. Esta es mi única manera, mi único camino, el camino me encontré que me enseña a ser lo que soy. Aún no funciona.
Uno de los mayores dolores de los hombres es querer gritar al lado de alguien que quiere dormir. Quiero gritar, gritar, someter todo lo que existe y ser más - no quiero ser más... Quiero ser capaz de ser. Todo lo que se salvó una hora explota y hace todo mucho más grande que hay. La revuelta se enciende en la memoria.
El hecho es que estoy nervioso. Me siento cada nervio de la espalda en rigidez, loco deseo de vivir la escatología, de siempre purgar, para deshacerse de lo que no soporto siempre ser e que Sean para mí... ¿Sean para mí? ... Yo voy loco.
¡CARAJO! ¡Quiero gritar! Hablar todos las palabrotas que nunca mencioné porque nunca he querido, nunca he necesitado, nunca me gustaba, ofender a la más sutil presencia que se insinúa, gritando, GRITANDO, ¡MALDITA SEA!
...
Lo juro por mí mismo, estoy mantenendome (¿Devo hacerlo?)... Cuando yo quiero llorar, no puedo. Pero yo sé: cuando lo me encuentrar mejorado, las lágrimas brotaron. Y sé que no se detendrán por sí solo.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Meu estoque



ABSOLUTAMENTE SEM COMENTÁRIOS.

NEWS! GOOD NEWS!

NOVIDADES BOAS! HOSANA!

Ê, chão moiado!!!

- Quem vos fala é Waldyr, quase sendo alvejado pela insistência em pegar o violão e tocar Galhos secos/O sapo não lava o pé

Estou sentado no quarto do hotel, de frente para o notebook e ouvindo o grande Oswaldo Montenegro... “Pra longe do Paranoá!”, e aqui vão novidades legais:
Pedro, o rapaz sequelado do nosso quarto, conseguiu um emprego de dois dias, ganhando 85 paus por dia. Bem, o empregador é uma praga segundo ele, e eu acredito. É uma loja de tapetes - labuta enrolando tapetes, mudando de lugar, aspirando TODOS eles, fazendo entrega... Bem, ele virou um faz tudo por 2 dias. O cara deu 30 minutos pra ele almoçar, tadinho!
E eu e o Dani conseguimos um empreguinho também... 5 dias, de 20 a 24 de dezembro. Graças a Deus! Deve dar uns 50 dólares por dia, de modo que eu pago mais 3 semanas de hotel com essa grana =). Só falta arrumar um emprego fixo...
Estou pensando seriamente em comprar uns videogames aqui e revender no Brasil! Um Xbox sai por 200 dólares, mais 100 de taxa = 300, isso ta valendo uns 800 reais... dá pra vender por 1400 tranqüilo! Assim que eu vou pagar a viagem, UHAUhuhauHAUhauHAUHauhaUAH.
Encontro-me profundamente sem perspectiva: Já fui em todos os lugares que eu imaginei possíveis! TEM que nevar com força! De acordo com a previsão, até segunda teremos boa quantidade de neve... Isso é maravilhoso!
Bem, mudando de assunto... dois dias atrás eu fui peregrinar. Fui andando daqui até o Aspens, ida e volta (por dois motivos: Pra economizar 3 dólares ida e 3 volta, e pra expurgar o desânimo que havia dentro de mim – quando eu cheguei em casa, estava tão cansado que qualquer coisa que me acontecesse eu estaria satisfeito... Comi o miojo mais gostoso da minha vida!!!!). Foram 25 quilômetros mais ou menos ao todo. Me arrebentei! (Vocês não imaginam a minha satisfação ao dizer isso... mesmo.) Bem, e lá não consegui emprego nenhum também... Mas o caminho foi perfeito! Andei no meio da estrada, vendo corvos, esquilos, montanhas incríveis já cobertas de neve... lindo!
Hoje acordamos tarde e eu não tive tempo de roubar meu costumeiro suco do café da manhã... É a vida! Além do mais, meu estoque de miojo está acabando... hoje tenho que comprar mais no Albertson´s (O supermercado aqui perto).
Isso me faz lembrar um fato importante! Perdi minha carteira...
Olhando pelo lado bom: Só tinha 8 dólares nela, e TODOS os documentos brasileiros que não servem pra nada aqui....
Quem sabe alguém não acha e me entrega? =|

Tenho morrido de saudades do Brasil! PRECISO de um café de verdade, de arroz, tutu e couve, com um franguinho cozido com batatas... Aiê! Quero ver todo mundo de volta!
Saudades demasiadamente grandes...

Beju para todos! Boa sorte pra nós!

P.S.: Anoto aqui pra que eu não esqueça: Preciso fazer um tópico só para contar como foi o Dani escolhendo casaco na Cloudveil...

Waldyr, employment Hunter.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Estranhezas da viagem III

Estranhezas da viagem3
Pessoas, pessoas, pessoas

Como o Waldyr se veste:

1° camada: SEGUNDA PELE – uma blusinha preta, de manga comprida, que chamamos assim porque é “coladinha” na pele... faz muita diferença, mas estou usando a mesma há uns 3 ou 4 dias =)
2° camada: BLUSA ¾ NORMAL
3° camada: CASACO – freqüentemente, aquele que mamãe comprou pra mim na 8° série quando eu fui pra Barbacena
Em baixo: CALÇA DE PIJAMA + CALÇA JEANS = ALEGRIA...
Adicionais: LUVA, TOUCA, DUAS MEIAS, TÊNIS, algumas vezes CACHECOL...

PÉROLAS DA VIAGEM:

"WE HAVE TO PAY MERMO?" - Alexandre Pavam, para o atendente do hotel
"THAT´S IT, NÉ?" - Daniel, transeunte desconhecido


Olá, pessoas!
Esse é pra todos que falam que americano é um bixo (com X mesmo) ruim, babaca, frio e cruel... Cara, as pessoas aqui são maravilhosas! Simpáticas e educadas que deixam a gente, brasileiros, até desconfiados.
Óia só: Em Salt Lake, nossa parada antes de chegar a Jackson, fomos procurar o escritório do Social Security (É um cartão que nós temos que tirar pra ter o direito de trabalhar aqui...). Perguntamos a um cara onde era, e ele disse que não sabia... Uns segundos depois, o cara chamou a gente e disse que achava que era pra esquerda... daí, continuamos andando. O cara chamou a gente de novo, correu para alcançar-nos e, com o seu Wi-Phone na mão, mostrou o lugar por onde devíamos ir pelo Google Maps! Putz, inacreditável...
E houve muito mais! Um dia, eu estava abrindo o mapinha de Jackson na rua e uma mulher parou o carro e perguntou: “O que você está procurando?”, e me indicou o caminho certinho!
Por falar em carro, os carros aqui PARAM pra você atravessar... É só parar do ladinho da rua e todo mundo para e faz sinal pra você passar! Incrível, né?
Agora eu vou contar algo engraçado... fui numa loja chamada Mountunes. Eu tinha mandado um e-mail pra lá pra pedir emprego, e a mulher (Susan) disse que não tinha nada, mas tinha me achado legal e mandou eu passar lá pra dizer “Hello”. Fui lá intão, né?
É uma loja de Piercing, Tatoo e música, e a moça tinha 4 cores no cabelo! MUITO gente boa... falou da neve, riu dos mexicanos que moram aqui e mandou eu rezar para UULARF... quem é Uularf? O Deus nórdico da neve! Ela contou que há uns anos atrás ela e os empregados queimaram alguns esquis em sacrifício ao Uularf, e que depois nevou... Bom, quem sabe não dá certo?
Será que o Uularf gosta de miojo?
Beijo pra todos! Saudades mil!

Fiquem com Deus, e até mais!
NOVIDADE: Compramos um violão, deu 20 paus pra cada um... Glória! Aleluia!

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Meu segredo...

Sinto vontade de fechar os olhos e não abrir mais, sem morrer, sem dormir, só me desligar do que existe em volta e estar apenas Eu. Não sei mais o que sou há muito tempo, mas descubro cada vez uma outra forma como “posso ser”. É duro ter que escolher quando se econtra o limite, o ponto culminante, onde se decide entre entregar-se a Deus e não acreditar nele – a dúvida que enoja e assusta, mas está presente. Os extremos se confundem.
Continua o medo do que me virá, e saudade do que eu sei que não vai ser nunca mais... saudade dos meus anos passados. Sentir raiva do que sou não adianta mais. Chorar sem motivo é só mais uma de minhas manias.
Faltam-me forças. Não sei bem pra quê, mas faltam-me. Medo de perder o apreço de quem amo... medo de já estar perdendo. Vontade de ter vontade de vomitar, só pra ter um jeito de botar tudo pra fora, bulimia de pensamentos... Quero xingar e gritar e falar com todos o que eu sinto mas não tenho coragem e por isso guardo e guardo e não sei o que é meu ou não é no fim...
Meu segredo eu não sei.
Das duas, uma: ou me entendo, ou me acabo.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

News!

Estranhezas da viagem2
Vida loka, Vida Á

Diário de bordo: Hoje, graças a todos os deuses de todos os panteões, nevou. Mas ainda não é neve suficiente pra abrir a porteira das contratações... Quem sabe até o fim da semana!
Almoço de hoje:
2 miojos
3 salsichas
Suco furtado do café da manhã
(...)

Bem, eu trouxe meu celular já sabendo que ele só serviria como relógio e despertador, mas eu não imaginava que meu carregador não entraria em NENHUMA tomada americana. O maldito plug daqui é nos moldes daquela entrada de computador – dois palitinhos de picolé e um “cilindro”... E o pior é que um adaptador (achado com muito custo) custa 22 dólares (Um celular pré-pago com 300 minutos custa 30 dólares no mercado ao lado =P)
Continuo na vida de biscoito e comida congelada... Ieargh! E nos fast foods, já ví até hamburguer com pão doce... ou melhor, já até comi! Mas foi sem querer... se eu soubesse que o pão era doce, não teria pedido, e se eu soubesse que era tão ruim, teria me mantido demasiadamente afastado!
Já imaginou você dizer que a melhor coisa que você anda comendo é torrada com requeijão? AUHuahUHAuhauHAUH Estou assim, mas é mais por pão-duragem. Na verdade, nenhum de nós está comendo bem, fora um sorvete que o vini trouxe que é espetacular, mas quando arrumarmos emprego, viveremos a doce vida de pizza e lasanha no microondas (...).
Roubei umas mostarda e uns catchup do McDonald’s pra botar naquela salsicha sinistra.... vamos ver no que dá!
Nossa casa (estamos chamando nosso quartinho de “casa”, pra ficar mais acolhedor”) virou um muquifo! Parece o quarto do Guilherme, meu irmão. Um mané pendurou uma cueca pra segar perto da janela, as camas estão completamente desarrumadas e tem jornal e mala por todo lado.... Mas está ficando com a nossa cara. Colamos uma bandeira do Brasil que o Pedro trouxe na parede, tem um origami lindo Made in Casa da Bia pendurado no centro e eu comprei um bichinho de pelúcia de 1 dólar, um bonequinho de neve, chamado carinhosamente de “Tchola”.
Ademais, o banho é maravilhoso: chuveiro quentinho, banheira... o colchão é de mola e o travesseiro é ótimo! E outra boa notícia: Arrumei um copo com tampa pra apropriar-me do suco do café da manhã – isso significa 400 ml de suco por dia. Se eu usar com economia, serei feliz.
Já estamos pensando em fazer algo alternativo, tipo vender origamis na praça, mas aqui está tão movimentado quanto domingo à tarde no calçadão (!). Aliás, ninguém aqui anda a pé. Comentário adicional pra quem gosta de carro: aqui, corolas, civics e caminhonetezinhas são carros populares... Só tem carro ninja e caminhonetes do tamanho de caminhões (exagero...)
Amo todos vocês, e sinto saudades! Até uma próxima!
AbraçU!
Waldyr, o belo

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Estranhezas da viagem - parte I

Sem neve, sem emprego... rezando profundamente pra nevar logo! Novidades aqui:

Estranhezas da viagem 1
Tentativa de um diário compartilhado

Estamos a 11.000km de Juiz de fora, ou melhor, a uma distância de aproximadamente 6900 milhas... Bem, a primeira coisa que dá pra estranhar por aqui são as medidas! Todas elas! Estamos aprendendo a medir a distância em milhas ou em pés... legal, né?
Aqui faz um frio da morte. Se colocarmos um copinho d’água do lado de fora, congela... e isso não é exagero! Hoje pela manhã a temperatura chegou a 13° Farenheit... OK, de acordo com a formulinha que todos aprendemos no ensino médio, Farenheit -32 / 1,8 = Celsius... ou seja, pela manhã aguentamos -10,5°C. Mais gelado que a geladeira da Brahma, e mais baixo que a temperatura de congelamento da água.
Outra coisa doidera: As moedas não tem números! Temos que decorar o que são pelo tamanho e formato... Não existe moeda de 50 cents, e eles USAM as moedas de 1 cent! Sempre! As coisas que custam US$1,07 custam efetivamente US$1,07.
O peso por aqui é medido em oz. Até agora eu não sei converter essa joça! UHAjhauHAUhauHAUjAAUhauH. Tudo bem, isso não é engraçado. Pelo menos é a mesma medida de tempo (Embora aqui nunca se leia 13:00h, mas 1:00PM...)
Já sinto muitas suadades de tudo... Da família, da minha linda e dos amigos... E da comida brasileira! Comprei uma porcaria de salsicha de 6 dólares – 16 salsichões congelados! Eca! Mas vou comer até o fim... Quem não tem emprego não escolhe comida =). O café daqui é péssimo... pelo menos o do hotel – estou misturando com leite! Ah, e as barras de cereal estão rendendo bastante.
Amo vocês! Fiquem com Deus, e até uma próxima!
Finalizo com piada:
- como se diz “Frio do caralho” em inglês?
- Jackson Hole, Wyoming!
Bye!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Cansaço de mim

Cansei de mim.
Tenho a vaga, porém lúcida impressão de que não faço mais parte desse mundo... e se ainda faço, não quero fazer. Sinto nas costas o peso da porcaria nenhuma que teimo em carregar, burro da carga alheia que tomo por minha.
Acho que meu estado atual me entristece. Saber que o eu criança desejava um mundo lindo, de amor e fé, de esperança e igualdade, torna ainda mais soez meu desejo hodierno de um canto só meu. Um canto em que nada nem ninguém me queira, me cobre, me seja, me molde. Recorrente sensação de que estou me tornando pior.
Julgar-se erroneamente acima da média é obrigar-se a estar sempre acima. Permitir a cobrança dos outros guiando sua vida e acreditar que você não pode decepcionar ninguém. Depois, é passar a culpa para si, estimular a si mesmo a uma falsa alegria infinita, que esconde dores e mazelas de quem não te quer assim até encontrar onde vomitar tudo isso – que seja um texto qualquer. Uma das piores coisas pra mim é a necessidade de contentar-me com o pouco que sou.
Dói saber o porquê disso tudo. Aliás, dói achar que sei, e mesmo assim não achar forças para viver... Só para existir. Quero ser o que sou, mas não sei se minhas censuras vêm do meu prejudicado bom senso ou da pressão de quem me acha Bom. Não sou. Sinto falta de achar que estou no caminho certo. Falta da inocência e da ignorância que não me permitiam os pensamentos de hoje. Falta de querer amar meu semelhante sem ter medo de ser obrigado a amá-lo pra sempre, e uma puta saudade do que não me existe.
Que se dane. Eu não suponho que ninguém me entenda. Afinal, essa suposição seria um contra-senso. Se expurgo tudo por aqui, não é para despertar pena ou admiração. Para o inferno com esses dois. É só para me lembrar de como eu era: Uma criança que escrevia. Sem vergonha do que sente e sem medo de ser feliz, a desenhar o destino que queria e não iria alcançar, em linhas verdes traçadas com firmeza, infantilmente.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Cri-Cri

Talvez eu leve uma vida inteira para entender porque os grilos canta. Na escuridão adocicada da noite, um solitário som se ouve partindo de lugar nenhum, mas notadamente proveniente de um artrópode – verde ou marrom – com hábitos noturnos e que pode pular dezenas de vezes sua altura.
O canto incessante, longe de atrapalhar meu sono, me acalenta. Não canta pedindo respostas, seduzindo uma fêmea, chamando atenção ou qualquer outra coisa que eu possa apreciar, mas canta o tempo todo, fiel a uma verdade escondida. Mas para que? Por que derrama gratuitamente sua melodia pela noite em vez de aprofundar-se na quietitude e mansidão de um lar bem feito no meio de folhas e terra fresca? O que ele procura ou deseja? Quais os anseios daquele inseto?
Minha ingênua cabeça busca resoluta uma solução para tudo isso. A resposta não pode ser apenas “Ora, o grilo não canta por motivo algum. Canta porque canta!”. Ao menos não pode ser para mim, ser humano, supremacia da criação e maior que todo o resto. De jeito nenhum. Porque se cantasse por nada, o grilo se tornaria milhares de vezes superior a mim – que nada faço sem razão. Cantar por um imperativo da natureza é algo além do que posso compreender.
O fato é que canta. O mesmo cri-cri noite adentro, estendendo-se pela eternidade. Um canto capaz de despertar qualquer um para as coisas maiores, e um canto disposto a ensinar um dos maiores segredos do mundo a quem tiver vontade de escutar.

domingo, 9 de novembro de 2008

No reino das palavras...

Dedico às palavras
o respeito que lhes devo,
tolamente.


Uso e abuso
como se me pertencessem
e peço perdão
pelos devaneios que tenho

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Recolhimento proibido

Quando eu pousei meus olhos nela, parecia querer fazer o impossível. Abriu um olho para me fitar, não como alguém especial, mas como outro transeunte qualquer a atrapalhar sua vida. Logo voltou a fechá-lo. Seu corpo delgado enrodilhava-se sem muita dificuldade sobre os dois assentos, a mochila cheia usada como apoio e travesseiro improvisado. Seus cabelos já não respondiam mais, rendidos ao vento que entrava generosamente pela janela do menino da frente, que ameaçava vomitar.
Não fui para o fundo, como de costume. Sentei-me na poltrona logo atrás dela. Não foi por sadismo, juro. Não sei dizer direito o porquê.
O ônibus voltou a se mexer, e senti que seu martírio recomeçou. A cantoria dos garotos – os incríveis garotos que explodem de alegria no início das mais cruentas manhãs – infestava o ambiente, perpassado pelo ar gélido do dia que aceitava o convite das janelas abertas. A profusão dos ritmos era frenética, e ela, estóica e firme, recusava-se a levantar. Aquilo me deixava um tanto inquieto, e diria que algo preocupado...
Arrisquei um olhar tímido por sobre o banco. E outro. Depois mais um. Ela remexia os braços e as perna em busca de uma posição favorável. Já havia desistido de vestir o casaco para cobrir com ele parte do corpo desprotegido. A testa enrugava, certamente por causa do barulho. Os olhos sempre fechados.
Eu não podia fazer nada. Eu sabia disso. Contudo, meu desejo – meu estranho desejo – era que ela simplesmente conseguisse descansar. Talvez alguém a estivesse esperando do outro lado do sono. Talvez tivesse dormido mal, ou estivesse doente. Mas naquela hora, nem pensei em nada disso. Recusei mais de uma vez os convites de meus amigos cantores só para permanecer ali, próximo da menina que eu não conhecia, em silenciosa prece para que ela deixasse aquele mundo por alguns instantes e conseguisse dormir.

sábado, 25 de outubro de 2008

Guardanapo?

Hoje eu almoçava sozinho num banco da animada cantina da minha faculdade, a mesma comida engordurada de sempre ingerida com a calma de quem acha que comer devagar é bom pra saúde. O dia estava muito bonito e exageradamente quente, e nesses dias algumas raras e abençoadas rajadas de vento refrescam um pouco os corpos suados no vai-vem da vida. Um alento refrescante em uma cidade adolescente, que ainda stá decidindo se é quente ou se é fria.
E foi numa dessas rajadas repentinas que o rumo da minha refeição mudou abruptamente. Meu guardanapo foi levado por ela, dançando com o vento a despedir-se de mim, zombeteiro. Justo aquele espécime único, que como os copos ou talheres descartáveis, era capaz de fazer os funcionários da cantina se enervarem, gritar ou xingar minha mãe se eu pedisse outro humildemente...
Meu olhos desolados acompanharam o guardanapo enquanto ele encontrava repouso no chão frio. Parado, sozinho, inutilizado em sua nobre função de higienizar a boca depois de colheradas audaciosas de feijão e macarronada, o artefato de papel não representava mais nada.
Levantei-me de pronto e fui buscar o papel no chão, a fim de jogá-lo no lixo como mamãe me ensinara a fazer ainda na infância. Deixei ele largado em cima da pilha de copos, garrafas, embalagens de doces e outras coisas de aspecto desagradáveis que se avolumavam no balde de lixo, coroando minha consciência de bom menino. Porém, antes que eu pudesse voltar ao meu tão esperado almoço, outro vento desconcertante carrega aquele guardanapinho de sobre o lixo de volta para a pobreza do chão de cimento.
Me ergui mais uma vez do banco torto de tão usado, e desta vez deti-me um momento antes de tornar a apanhar o papel. Enrolei o fugitivo em uma bolinha e coloquei no balde forma segura – dentro de um copo usado, com um líquido que parecia Fanta Laranja. Agora sim, eu podia me julgar redimido com a responsabilidade de dar cabo daquele instrumento inútil.
Eis que, por um momento, começo a pensar naqueles que desistem de pegar seu guardanapo quando ele é levado ao chão pelo vento, por um esbarrão ou por uma eventualidade qualquer. Me eximo de pensar nos que atiram seus detritos deliberadamente para todo lado, pois esses eu não tenho ainda condições de entender... Contudo, aquele que vê o seu papel cair, mas lhe falta o ânimo para cumprir com a obrigação de deixá-lo no lixo é um pobre. Coitado de quem atribui a responsabilidade do guardanapo ao efeito que o levou ao chão, transferindo inutilmente uma culpa plenamente evitável... Talvez ele não se importe. Talvez ele realmente acredita que fez tudo o que podia, mas a queda foi inevitável ao simples papelzinho. Talvez ele se iluda com promessas falsas de múltiplos guardanapos em cantinas mais abastadas que a minha.
Mas pior do que isso é a incerteza. Que seria de mim, da cantina ou do próprio papel se eu tornasse a almoçar e não percebesse sua segunda queda? Se eu fosse embora, e o reencontro do meu delicado instrumento e da superfície áspera do chão jamais fosse conhecido pela minha cabeça? Teria eu culpa de tê-lo deixado inerte, abandonado? Ou a ignorância me teria redimido?
Olho para trás disfarçadamente para ver se minha bolinha continua bem guardada. Sim, lá está ela, dentro do copo que carrega a substância alaranjada – Tudo que eu precisava ver. Mas agora, minha mente é visitada por todos os guardanapos, propagandas, panfletos e mesmo folhas de matéria das quais me livrei depois da aula que jamais conferi se tinham conseguido seu lugar certo no regaço de uma lata ou um pote de lixo. Estou sendo assombrado pelos fantasmas do que não sei.
Só há uma opção: um compromisso. Peço perdão agora, e decido que a partir de então não deixarei mais meus resíduos por conta própria. Pode ser que um dia eu me canse de conferir cada coisinha que atire fora, e resolva fingir que não vi um papel de chiclete que não entrou na lixeira e caiu na poça d'água, ou uma embalagem de churros que saiu voando para longe... Mas isso é assunto pro futuro. Penso agora em nunca mais deixar de olhar pra trás e ver se cada coisa está em seu lugar.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Primeiras patologias...

Meu caro companheiro, antes de você adentrar nesse texto eu preciso informar-te que ele não é nada do que espera. Ou melhor, sei lá o que você espera, ou sei lá quem é você que está lendo, mas acima de tudo deixe isso de lado. Não espere. O tempo cuida de nos ensinar que não devemos esperar, só ter esperança.
Tenho vontade de escrever quando minha alma sente frio. É pena que isso não aconteça com a freqüência que eu gostaria, mas quem disse que desejo é suficiente? Bem, muita gente diz, mas não eu. Ou será que eu? O fato é que eu (se é que posso me chamar assim) me sinto bifurcado e partido. Como se o mim mesmo vivente que mora escondido quisesse tomar parte do teatro da vida, mas não encontrasse nenhum papel – os personagens estão todos muito bem divididos. O que resta para o eu continua sendo um quartinho nos fundos, sem janela e com parca iluminação, decorado por quadros baratos e um criado-mudo. Só.
O que eu sou hoje (Eu? Ao menos o que responde por eu) não é o que deveria ser. Ninguém é o que deveria, me dizem, mas talvez por isso mesmo não sejam. O que se lê às claras no semblante cansado das minhas máscaras de borracha é um conjunto de artifícios e manobras para. Para que? Ah, isso não tenho coragem de falar. Não sei se eu eu mesmo ou eu só, mas um de nós é um covarde... Ou os dois.
Isso deve estar cansando a você, leitor. Mas que leitor? Talvez tudo isso se perca pra sempre. Mas ao menos a mim isso já cansou. Sinto necessidade de chegar a um ponto final, mas não tenho nenhum caminho para seguir. Como encontrar o fim de algo que não se conhece um início? Acho que o que o eu (eu mesmo) acredita que merece ser não o é. Por isso o outro eu – se é que pode se chamá-lo assim – apareceu. Maléavel, esperto, confiável e gentil. E eu, que não pude me tornar assim, tive que dar espaço a um alguém mais que tomou o (meu) lugar.
Sinto que alguma coisa me falta, mas não me vem à mente nada. Talvez nuvens escuras, sentimentos puros e sem razão, descobrimento, fé no dia a dia. Saudade de não sei o quê. Quando fecho os olhos já me imagino dormindo. Isso é meio caminho para estar morto.
Outra coisa me incomoda profundamente (e isso incomoda ao eu de verdade, embora o eu mascarado e esperto não saiba mostrar muito bem o que há). Enquanto eu, um bem alimentado burguês de classe média, com roupas de frio e cama pra dormir estou em casa aumentando o volume da minha barriga e reclamando da vida, pessoas morrem de fome do outro lado da minha calçada. Heróis falsos derrubam assassinos inocentes, crianças choram por não encontrarem leite suficiente nos seios estéreis das mães. E eu aqui.
Frequentemente me vem à cabeça que aquele homem que hoje me pediu um trocado merece muito mais do que eu – O que não é difícil, seja lá de quem se trate. O doente que carece de tratamento não têm condições de pagar, ou mesmo de ter acesso à saúde. A menina que jamais reclamou do almoço engrossa a comida com o resto da farinha. A dona de casa chora porque não sabe mais ter fé. E aí uma contradição: Eu que acho que mereço muito mais também acho que não mereço nada – E cumpre lembrar que essas duas afirmações partem de um mesmo eu.
Como alguém pode ser tão cara-de-pau a ponto de reclamar da vida como “eu”?
Se o eu é tão confuso assim, justifica-se a criação de eu outro e sua ascensão. É mais fácil mostrar um eu pouco vivente e guardar o louco pouco sociável no quarto – aquele, lembram? Mas o eu renegado um dia sente falta de Ser.
E agora? Que sou eu para permitir que eu aja da forma como lhe convenha? (Não sei mais como usar os pronomes!) O eu verdadeiro é o que sou agora ou o que abandonei? Me parece que nenhum dos dois. Minha busca não termina com o fim de um pequeno texto escrito às pressas (e pressa por que?) numa noite escura de um dia de semana. Minha busca não termina. Talvez minha busca comece agora se eu tiver a coragem que eu preciso pra enfrentar os exércitos e muros que me separam do que quero Ser. Ser de verdade. Para isso, é preciso falar pouco, ser alegre, sair na chuva, pensar em Deus, comer pão puro. Minha maior dor é um dia ter desistido de mim.