segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Cri-Cri

Talvez eu leve uma vida inteira para entender porque os grilos canta. Na escuridão adocicada da noite, um solitário som se ouve partindo de lugar nenhum, mas notadamente proveniente de um artrópode – verde ou marrom – com hábitos noturnos e que pode pular dezenas de vezes sua altura.
O canto incessante, longe de atrapalhar meu sono, me acalenta. Não canta pedindo respostas, seduzindo uma fêmea, chamando atenção ou qualquer outra coisa que eu possa apreciar, mas canta o tempo todo, fiel a uma verdade escondida. Mas para que? Por que derrama gratuitamente sua melodia pela noite em vez de aprofundar-se na quietitude e mansidão de um lar bem feito no meio de folhas e terra fresca? O que ele procura ou deseja? Quais os anseios daquele inseto?
Minha ingênua cabeça busca resoluta uma solução para tudo isso. A resposta não pode ser apenas “Ora, o grilo não canta por motivo algum. Canta porque canta!”. Ao menos não pode ser para mim, ser humano, supremacia da criação e maior que todo o resto. De jeito nenhum. Porque se cantasse por nada, o grilo se tornaria milhares de vezes superior a mim – que nada faço sem razão. Cantar por um imperativo da natureza é algo além do que posso compreender.
O fato é que canta. O mesmo cri-cri noite adentro, estendendo-se pela eternidade. Um canto capaz de despertar qualquer um para as coisas maiores, e um canto disposto a ensinar um dos maiores segredos do mundo a quem tiver vontade de escutar.

Um comentário:

Vitor Lécio disse...

É meu caro, um canto capaz de dispertar apenas a fêmea para a reprodução.